terça-feira, 15 de março de 2011

Tecnologia aliada à reabilitação

De repente, a mente parece confusa, a fala teima em não querer sair da boca e os músculos já não obedecem ao comando do cérebro fazendo com que tarefas que antes pareciam simples, necessitem de ajuda para serem executadas.

Traumas neurológicos, se não tratados de forma imediata, podem trazer sequelas irreversíveis. No entanto, o trabalho incansável de uma equipe de profissionais e a força de vontade de pacientes e familiares é capaz de promover uma melhora significativa nesses quadros. No meio de tudo isso, uma nova ferramenta surge para impulsionar o tratamento: o computador.

A utilização de tecnologias na reabilitação de pacientes com sequelas neurológicas já ocorre há bastante tempo e envolve todo equipamento, modificado ou feito sob medida a fim de melhorar suas habilidades funcionais. A professora do curso de Terapia Ocupacional (TO) da Universidade de Fortaleza (Unifor) e mestre em Distúrbios da Comunicação Humana, Ana Paula Braga, cita que a escrita é um dos recursos mais utilizados para melhorar a comunicação do paciente que tem a fala comprometida. Dependendo de suas condições de comunicação, pode utilizar softwares e comunicadores com voz sintetizada e gravada ou pranchas de comunicação.

Se o computador já era uma realidade no trabalho de terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos, a novidade surge com a utilização do recurso da Internet - redes sociais e desenvolvimentos de blogs - a fim de não só desenvolver a parte cognitiva do paciente, quanto para reinseri-lo socialmente. A atividade, ainda em experiência, tem sido realizada por Elaine Studart, fonoaudióloga há mais de 22 anos.

A ideia surgiu durante o Curso de Docência no Ensino Superior, na Universidade Federal do Ceará (UFC), onde Elaine teve mais contato e aprendeu a utilizar novas mídias. A partir daí criou seu próprio blog - Fonoaudiologia e Comunicação -, voltado para a prática da especialidade. A experiência, que começou sem grandes pretensões, gerou excelentes frutos.

Superação

Quando Osmundo Rebouças, 68 anos, viu o blog de sua fonoaudióloga, imediatamente sinalizou: "Quero um também". Economista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), PHD em Harvard, ex-professor da Universidade de São Paulo (USP) e deputado federal, estava impossibilitado de trabalhar e de realizar várias atividades por conta de um AVC isquêmico ocorrido em fevereiro de 2010. Como grande parte dos pacientes, começou a ficar deprimido. Foi então que encontrou na internet, além de um estímulo, uma forma de desenvolver leitura, escrita e de voltar ao trabalho.

"Ele era muito ativo. Quando me pediu para fazer um blog, passamos um tempo pensando como seria. Criei o layout e o ensinei a postar textos e vídeos. Hoje, ele faz tudo sozinho", diz a fonoaudióloga Elaine Studart. Ela conta que, quando começou a tratar Osmundo, ele tinha fraqueza nos músculos e não conseguia coordenar pensamento e fala.

Após um árduo trabalho de TO, fisioterapia e fonoaudiologia, hoje mantém uma vida praticamente normal. Faz aulas de Pilates, dirige e realiza todas as suas atividades sozinho. A única dificuldade que possui é na articulação das palavras, ainda de difícil compreensão. Apesar disso, o economista não para de falar um só instante, e em seus momentos de lazer, se arrisca até a cantar em karaokês.

Elo de ligação

O uso do computador começou de forma simples, a partir da elaboração de palavras e frases e, posteriormente, da análise de textos e reprodução de interpretações. Elaine relata que, em pouco tempo, Osmundo Rebouças foi tomando gosto e criando artigos cada vez mais elaborados. Antes desacreditado pelos médicos, o paciente evoluiu de forma inesperada.

São muitos os benefícios do emprego da internet nesses casos. "Além de preencher o tempo, o paciente pode ampliar seu círculo de amizades e derrotar a solidão. O contato com a tecnologia faz com que ele volte a se sentir produtivo e inserido socialmente, produzindo, criando e obtendo novos conhecimentos", explica a professora do curso de TO da Unifor e mestre em Psicologia, Elcyana Bezerra Carvalho.

Mais do que outros meios de comunicação, o computador permite que os pacientes neurológicos experimentem uma excelente adaptação às dificuldades visuais, auditivas e motoras, próprias dessa patologia.

Com informações do Diário do Nordeste.

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