terça-feira, 11 de novembro de 2014

O poder dos tímidos

Eles irão protagonizar a principal revolução no mundo dos negócios na próxima década, defende Susan Cain


A próxima revolução no mundo dos negócios será silenciosa. Ao menos é o que defende a americana Susan Cain, autora do bestseller "O Poder dos Quietos: como os tímidos e introvertidos podem mudar um mundo que não para de falar". Segundo estima, o grupo dos silenciosos representa metade da população mundial.  "A maior tendência dos negócios nos próximos 10 anos será enfrentar o desafio de destravar o potencial desses profissionais", afirmou Susan, em palestra realizada no HSM Expo Manangement hoje (04/11) em São Paulo. "Está claro que para ser bem-sucedida uma empresa precisa das duas maneiras de pensar: a dos introvertidos e dos extrovertidos".

O caminho para os introvertidos, no entanto, não será fácil. "Vivemos em uma cultura que diz que todos precisam ser extrovertidos, mesmo que isso signifique não ser você mesmo. Metade da humanidade é tímida, mas acaba adquirindo hábitos de extrovertidos. Eu, por exemplo, fui uma advogada de Wall Street antes de me tornar uma escritora, que era o que eu realmente queria".

Mas o que significa ser introvertido ou extrovertido?  

Cain sugere um teste simples: "Depois de duas horas de uma boa festa, o que você pensa? O introvertido começa a considerar ir para casa e isso tem uma razão biológica: eles são mais sensíveis a estímulos. Já os extrovertidos precisam de mais agitação para não se entediarem". A americana cita um estudo que mostrou que os extrovertidos se davam melhor ao tentar resolver problemas de matemática quando havia mais barulho no ambiente. Já o contrário, era válido para os introvertidos. "Isso mostra que não existe um ambiente que funcione melhor para todos os profissionais". Essa, segundo ela, é uma primeira lição para as empresas.
  
"Albert Einstein costumava dizer que não era tão esperto assim. O que o diferenciava dos outros era ficar com os problemas por mais tempo. O megainvestidor Warren Buffett uma vez se comparou a um pintor: 'Eu não ligo se alguém me mandar pintar com mais vermelho. Eu não me importo. É o meu quadro".

Isso não significa, Susan argumenta, que os introvertidos não saibam trabalhar em grupos. "Há estudos que mostram que os tímidos se dão bem no trabalho em grupo. Mas é uma boa ideia para as empresas deixá-los trabalhar inicialmente sozinhos, para depois se juntarem aos demais. O processo de criação é muitas vezes solitário". Até porque, lembra a americana, como um ser social, os humanos são altamente influenciados por seus pares. Um fator favorável adicional ao trabalho individual vem de outro estudo comentado por Susan. Em uma reunião grande, três pessoas costumam monopolizar a conversa por 70% do tempo. Péssimo, considerando que provavelmente elas não têm 70% das melhores ideias.

Como fazer reuniões?

Obviamente, o trabalho em grupo segue sendo importante, assim como as reuniões são fundamentais. Existem alguns truques para que tanto introvertidos como extrovertidos possam aproveitá-las melhor: 

Introvertidos: "Pense no que você quer falar e tente falar o mais cedo possível na reunião. Quem fala antes ganha mais atenção ao longo do encontro inteiro. Aqueles que deixam para falar depois geralmente são percebidos como alguém que fica à margem". 

Extrovertidos: "Tente ficar um pouco mais quieto. Sheryl Sandberg, COO do Facebook e uma das mulheres mais poderosas do Vale do Silício, chegou a contratar um coach para aprender a falar menos e ouvir mais". 

Uma nova liderança

Susan defende que há diversas maneiras de liderar. "Precisamos redefinir o conceito de liderança. Um bom líder não é necessariamente um líder carismático", diz. "Gandhi costumava voltar correndo da escola para casa para não ter que ficar conversando com as pessoas. Ele nunca gostou de falar em público, mas o fazia porque se importava com as causas que defendia".

Líderes introvertidos já estão presentes mundo corporativo. Mesmo em uma cultura que identifica comportamentos extrovertidos  como traços de liderança, nomes de introvertidos como Bill Gates, fundador da Microsoft, Larry Page, fundador do Google, e Marissa Mayer, CEO do Yahoo, integram a lista de importantes personalidades do mundo dos negócios, aponta a americana. "Muitas vezes os tímidos nem procuram os cargos de liderança, mas por serem tão apaixonados pelo que fazem acabam chegando lá".

Se os extrovertidos devem se preocupar em como tratar os introvertidos, essa liderança silenciosa também deve tomar um certo cuidado com os extrovertidos. Susan dá um exemplo de sua vida pessoal que pode ser transferido também para um ambiente empresarial. "Quando o meu livro entrou para a lista de bestsellers, meu marido, que é extrovertido, deu pulos de alegria. Eu, uma introvertida, estava tão feliz quanto, mas tive uma reação mais discreta. Porém, eu sei que se algo de bom acontece com ele, eu tenho que mostrar mais empolgação, senão ele se chateia e interpreta como se eu não ligasse tanto para aquilo. Esse mesmo comportamento deve passar pela cabeça de um chefe introvertido".

Se Susan estiver correta, extrovertidos e introvertidos terão que passar muito tempo tentando se entender nos próximos anos. Uma revolução silenciosa ainda é uma revolução.

Fonte: Época Negócios 

Nenhum comentário:

Postar um comentário