quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Fotografar comida é uma arte



Uma foto vale mais que mil palavras. O velho e conhecido ditado é ainda mais verdadeiro na gastronomia onde somos seduzidos pelo visual da comida até mesmo antes de sentir o aroma e o sabor. E isto é fácil de provar: quantas vezes, num restaurante, não ficamos com vontade de experimentar o prato desconhecido que está sendo servido na mesa ao lado, simplesmente porque sua aparência abriu nosso apetite?

“A visão é o primeiro sentido a ser despertado pela comida e a fotografia é o formato que vai, através da mídia, despertar em milhares de pessoas, o mesmo desejo que tivemos com o prato servido ao cliente sentado na mesa ao lado” diz o fotógrafo Gladstone Campos, 31 anos de profissão, e que dedica à fotografia culinária para jornais, revistas e publicações em geral boa parte do portfólio do seu estúdio, o Real Photos.

A opinião é a mesma do fotografo Clicio Barroso Filho, diretor da Associação de Fotógrafos Fototech, que acaba de lançar no mercado o livro “Fotografia Culinária” com trabalhos de diversos afiliados. Clicio também tem ministrado cursos, palestras e workshops em faculdades e cursos de pós graduação, em instituições como o SENAC e Escola Panamericana. “Sem a fotografia, o marketing do segmento teria bastante dificuldade na descrição apenas textual dos pratos e produtos, já que a importância da imagem para despertar desejos é absoluta”, afirma.

O fotógrafo Valentino Fialdini, com 14 anos de atuação no mercado e que recentemente desenvolveu um curso sobre fotografia culinária para a Escola São Paulo, também reforça este papel da fotografia focando outro ponto importante: a longevidade da imagem de alimentos na mídia. “Já trabalhei numa revista com um grande espaço dedicado ao turismo e gastronomia e pude constatar que a gastronomia é a parte da revista que o leitor arquiva, quer dizer vai ter a foto sempre diante dos olhos. Uma super exposição muito benéfica que todo mundo quer para seu produto”.

Mas se por um lado a fotografia culinária tem toda esta força para o marketing por outro lado é longo, difícil e muito concorrido o caminho que vai do click do fotógrafo até a publicação pela mídia. O primeiro passo para tornar esta estrada mais fácil é a qualidade da foto. E para garanti-la é melhor contratar um profissional habilitado do que arriscar com uma foto amadora.



“Com o advento da era digital, muita gente acha que pode fazer as próprias fotos. Mas fotografia exige técnica. Uma coisa é fotografar a família e as atividades familiares outra e garantir um espaço na mídia”, diz Gladstone Campos. “Hoje em dia uma matéria num jornal ou revista não vai ter mais de uma ou duas fotos.

Mas o jornalista será bombardeado por dezenas delas, e terá que fazer uma seleção rigorosa. Vai vencer a foto melhor. E ai, o dinheiro investido num bom profissional pode fazer toda a diferença”.

As tendências da foto culinária

Para Gladstone há alguns aspectos fundamentais para se obter uma boa foto culinária. “Comida é coisa viva e de vida curta. O grande segredo de fotografar um prato é não se esquecer disto” Ele conta que para conseguir o melhor efeito tem, antes, uma longa conversa sobre o prato com o chef para conhecer todos os detalhes. Depois monta o ambiente, arranja um objeto de tamanho parecido com o prato que vai ser fotografado para ajustar a luz. “Assim, quando o prato chega, basta substituir o objeto e fotografar sem que a comida perca sua frescura”, diz. “Combino com antecedência todos os detalhes. A foto mesmo são três clicks e pronto”.

Gladstone explica que a tendência da foto culinária hoje em dia é o foco na comida, direto, não na louça. A foto deve ser tirada num ângulo de 45 graus como se o leitor estivesse sentado à mesa com o prato à sua frente.

Já para Clicio Barroso uma boa foto culinária exige limpeza, iluminação e sofisticação na apresentação dos pratos, “com enquadramentos contemporâneos e composições apetitosas”.

E para Valentino Fialdini a foto culinária ressalta ainda mais os dois aspectos básicos da fotografia: o uso adequado da luz e o enquadramento. “É preciso uma luz clara, gostosa, sensual. O cérebro humano reconhece a luz e gosta dela em abundancia” diz “A luz apropriada - e minha preferência é pela luz do dia - valoriza a foto culinária como ela é feita atualmente; uma foto verdade, pois aquela historia de maquiar a comida já não existe mais”, diz. “Gosto de fotografar a comida que vou comer, sem nenhum disfarce”.

O Mercado da fotografia culinária

Para quem pensa em entrar no mercado, o jeito é se tornar um autodidata. Há muita literatura estrangeira disponível, mas não existe um curso regular de fotografia de gastronomia, apenas cursos de curtíssima duração. “Já treinei mais de uma dúzia de estagiários e eles aprendem como eu aprendi, observando...” diz Gladstone. “Fora isto, um bom equipamento, experiência e muita pesquisa para estar por dentro de tudo que for novo e das tendências que estão na moda”.

De todo jeito o mercado de fotos para culinária está em expansão. “A fotografia culinária é um dos poucos segmentos da foto publicitária que só cresce; novos pratos e receitas são criados diariamente, rótulos têm que ser atualizados, cardápios é mudados. O fotógrafo da área é um profissional requisitado e necessita de apuro técnico, e gostar de comida, naturalmente” diz Clicio.

Um livro de técnicas e experiências

Para quem está interessado em aprender, uma boa leitura é o livro “Fotografia Culinária” (Editora Desktop) que a Fototech acaba de produzir. Segundo Clicio, o projeto da associação é fazer uma série de livros de fotografia, coletivos, temáticos, mostrando didaticamente tanto a parte técnica quanto a parte conceitual da fotografia profissional, apenas com fotos dos fotógrafos integrantes da Fototech.

“O tema culinária nos pareceu apropriado para essa primeira edição, já que demanda técnica apurada, bom gosto e paciência para ser bem executado”, diz.

O livro traz em dezesseis capítulos um panorama de fotografia contemporânea de culinária, com esquema de iluminação, fichas técnicas e descrições dos procedimentos e curiosidades sobre as fotos realizadas. “É um verdadeiro passo a passo, fala das iluminações, do uso do equipamento adequado, de truques para valorizar os pratos” diz Clicio. “O objetivo principal é que seja um guia de bons procedimentos e dicas preciosas para os que se interessam tanto por fotografia quanto por culinária”.

O livro traz informações precisas como este texto da fotógrafa Lucia Adverse, de Belo Horizonte, sobre uma fotografia de pimentas: “Utilizei somente luz de janela e um rebatedor dourado. Além de dar brilho à pimenta, o rebatedor deu um tom mais quente ao prato. Foi preciso fazer um crop (quadrado) para adequar ao espaço aplicado”.

E continua “Curiosidade: Na finalização do tratamento, foi aplicado no Photoshop o filtro Brush Strokes – Sprayed Strokes com a intenção de similar a fotografia a uma pintura com lápis de cor. O filtro foi tão sutil que somente percebe-se na ampliação de tamanho de 250 X 215 cm. Ao aproximarem-se da imagem, as pessoas ficam em dúvida se é uma foto ou uma pintura, por causa do efeito." Como se vê a foto culinária não pode ser encarada apenas como um hobby.

Por Regina Nevez - Site Sadia Food Service.

Nenhum comentário:

Postar um comentário