É bastante
comum o uso da expressão "profissionalização da gestão" quando tratamos
da transição da gestão familiar, conduzida pelo fundador da empresa ou
familiares sucessores, e a gestão feita por profissionais sem vínculo de
parentesco com a família. Essa expressão é equivocada e, de certa forma,
ofensiva à família fundadora de empresa, pois sugere que sua gestão não seria
profissional.
Existem aspectos positivos e negativos em ambos os modelos de gestão,
mas "profissionalismo" certamente não é o que faz a diferença entre
elas. Não podemos ignorar o fato de que a maioria dos argumentos a favor da
"profissionalização da gestão" vem de "profissionais".
Logo, não são completamente isentos.
Um dos argumentos mais utilizados para criticar a gestão familiar é seu
"personalismo". Os acionistas, acumulando a função de gestores, tenderiam
a "misturar" seus interesses pessoais com os da empresa. Mas,
convenhamos: na prática, não são poucos os executivos "profissionais"
que têm a mesma atitude. Aliás, ao optar pela gestão por executivos
contratados, os acionistas devem contar com isso e adotar sistemas de incentivo
que alinhem os interesses "pessoais" com os objetivos da empresa.
Vamos abandonar a expressão "gestão profissional" e
substitui-la por "estrutura de governança corporativa". Uma estrutura
(ou sistema) de governança corporativa convencional pressupõe que os acionistas
têm um lugar especialmente reservado para eles (o board), que a gestão será
feita por executivos contratados em função de sua competência e que serão
estabelecidos processos para garantir que a "alta gerência" trabalhe
alinhada com os interesses dos acionistas, sem se esquecer dos demais
stakeholders (partes interessadas).
Traduzindo, uma estrutura de governança corporativa visa a garantir que
a empresa seja dirigida com a mesma determinação e comprometimento da gestão
familiar e, no mínimo, com a mesma competência.
Essa "complicação" só se justifica quando:
- os fundadores já não têm interesse em administrar diretamente a
empresa;
- a empresa cresceu muito ou o contexto sofreu grandes alterações, de
modo que os empreendedores/fundadores já não reúnem as competências requeridas
para a gestão cotidiana do negócio;
- uma nova geração de acionistas não tem interesse ou a competência
requerida para a gestão do negócio;
- existem problemas insuperáveis de sucessão na família fundadora.
Em qualquer dos casos, essa transição não é fácil. O desafio recorrente
que mais observo é o da confiança. Costuma ser muito difícil para os fundadores
acreditar que um executivo contratado vá cuidar do seu negócio com a mesma
preocupação e dedicação. Isso gera um dos problemas mais comuns na fase de
transição: a dificuldade para delegar autoridade de forma compatível com a
responsabilidade.
Pode parecer óbvio que contratar um diretor geral (ou CEO) significa que
ele deva ser o responsável por conduzir a empresa. Mas não espere que a
transferência de autoridade para tanto seja automática e sem traumas.
Na medida em que a "alta gerência" (ou seja, os executivos
contratados para dirigir a empresa) assumam sua responsabilidade e exerçam a
autoridade correspondente, apenas prestando contas ao board de acionistas, é
relativamente comum um sentimento de insegurança e a expressão "ditadura
dos executivos" (ou alguma semelhante) passa a frequentar os encontros
privados de acionistas, traduzindo o sentimento de que os executivos
contratados querem "mandar na empresa".
Esse sentimento dificilmente é superado pelos sócios-fundadores e
justifica suas idas, vindas e interferências na gestão durante a fase de
transição, mesmo quando a empresa vai bem e supera resultados. Em algumas situações as interferências beiram o assédio moral, mas há
que se dizer em defesa dos acionistas que entregar sua empresa na mão de
"estranhos" não é uma tarefa trivial.
Cabe aos executivos contratados compreender essa situação e procurar
conquistar a confiança dos acionistas sendo o mais transparente possível em
suas ações e decisões, sem arrogância ou melindres.
Se não tiver paciência ou talento para tanto, melhor procurar emprego em
companhias de capital aberto, onde os problemas serão outros.
Com informações de Administradores.com
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