terça-feira, 13 de maio de 2014
Identificando as oportunidades
Você certamente já ouviu a palavra ‘paradigma’. Mas é possível que não saiba exatamente o que significa, ou por que o conceito é importante para o empreendedorismo. O clichê mais comum no meio corporativo é “quebrar paradigmas”: a expressão é usada para justificar uma mudança de qualquer natureza. Mas a coisa não é tão simples assim.
Em primeiro lugar, o que é paradigma? Paradigma é um padrão, um modelo que indica como as coisas funcionam ou devem ser feitas. Não confunda com uma lei ou regra formal. ‘Não pise na grama’ não é um paradigma, é uma regra, uma norma. Agora, se você pensar ‘Eu acho que as pessoas não deveriam pisar na grama’, isso é um paradigma. A frase representa uma crença, um padrão que você estabeleceu com base em suas convicções, crenças e postulados pessoais. Esta crença foi concebida em sua mente a partir de modelos mentais formais ou informais criados ao longo de sua existência, seja por influência cultural, da família ou escolar.
Tudo bem até aqui? Bem, essa é a parte fácil. Vamos complicar um pouco agora, desconstruindo o clichê que eu mencionei antes. Nós não devemos “quebrar paradigmas”, pois os paradigmas são bons, úteis e necessários. Sem os paradigmas, não teríamos uma referência, não saberíamos como viver. Graças aos paradigmas, não saímos pelados na rua, comemos com boca fechada, cumprimentamos as pessoas quando as encontramos e buscamos uma boa formação para ter uma carreira bem-sucedida.
Os paradigmas começam a se tornar problemas quando se transformam na única maneira de ver as coisas. É o que chamamos de ‘paralisia de paradigma’ - ou seja, quando não aceitamos nenhum modelo que confronte o nosso. Ainda assim, existem paralisias de paradigma que não chegam a ser um obstáculo. O teclado do computador é um exemplo de paralisia de paradigma que não faz mal a ninguém. Os primeiros teclados alfanuméricos de telefones celulares vinham na sequência do abecedário, mas logo foram convertidos para o padrão do teclado de computador, que por sua vez, veio da máquina de datilografia. O padrão QWERTY, como ficou conhecido, persistiu como uma paralisia de paradigma. Não mudou porque não havia nenhum motivo forte para isso.
A paralisia de paradigma só é um problema quando impede que uma mudança importante aconteça. Assim, o relógio a quartzo só prosperou quando a paralisia do paradigma segundo a qual os relógios tinham que ter engrenagens caiu por terra. A comida orgânica só se popularizou quando o público derrubou o paradigma de que a comida tinha que ter boa aparência. O microcrédito só deu certo em instituições que adotaram a confiança como paradigma de concessão de crédito. Outros paradigmas estão caindo nos dias de hoje: livro tem que ser em papel, o telefone serve para fazer ligações, emprego é garantia de estabilidade, viagens de avião são caras.
Outro problema é a dificuldade em identificar paradigmas. Pergunte a si mesmo: ‘Quais são as minhas paralisias de paradigma?’ Mesmo que se concentre na pergunta, terá dificuldades em respondê-la. É fácil encontrar as paralisias de paradigma dos outros. ‘Fulano de tal não acredita que precisa monitorar sua pressão arterial com frequência’, ‘Cicrano não quer saber de abrir mão do elevador para subir um andar apenas’. Agora, quando se trata das suas crenças, daquilo que você acredita que deve ser assim e se manter assim, como reconhecer as eventuais paralisias? Afinal, eu acredito que os padres deveriam poder casar, que o aborto tem que ser legalizado, que a assepsia das mãos é importante para evitar infecções, que todo advogado é mentiroso. Como faço para saber qual desses meus paradigmas representa uma paralisia? E, sobretudo, quais dessas paralisias estão me impedindo de fazer uma mudança importante?
A melhor forma de fazer isso é confrontar seus paradigmas com o de outras pessoas. Assim como você enxerga melhor os paradigmas dos outros, eles terão mais facilidade em identificar os seus. Se muitas pessoas pensam diferente de você em um determinado assunto, há aí uma evidência de uma paralisia de paradigma. Se outros reclamam muito do jeito que você é, pensa ou se comporta, também há indícios de uma paralisia que pode estar te atrapalhando.
Por outro lado, é também nos conflitos de paralisia que o empreendedor enxerga o que ninguém vê. Quando todos pensam de um jeito, pensar diferente é um privilégio. Seguir o mesmo modelo mental de todos pode impedir a criatividade e a identificação de oportunidades. Ter a coragem de quebrar seus próprios paradigmas para inovar significa também construir novos paradigmas antes de todos. Portanto, quando sua ideia não é aceita pelas pessoas, pode ser tanto por paralisia de paradigma sua quanto por paralisia de paradigma deles. Este é o verdadeiro dilema do paradigma: ‘Estou pensando diferente porque estou à frente dos demais ou porque estou atrás de todos?’.
Quando minha filha teve o primeiro contato com uma máquina de datilografia, ela ficou extasiada. Achou que era uma tecnologia fantástica, porque era um computador acoplado a uma impressora. Ela se referia a uma tecnologia que todos já abandonaram, mas sob uma perspectiva inovadora. O que importa ao romper as paralisias de paradigmas é a adoção de novas formas de pensar sobre as realidades que temos hoje ou tivemos no passado.
Para terminar, convido-o para refletir: eu acabei de te apresentar um novo paradigma. Se você concorda e aceita, é porque estas ideias combinam com os seus próprios paradigmas, e daí você aprende e compartilha. Se você rejeita, é porque há um conflito de paradigmas. Se você tiver flexibilidade, poderá mudar suas crenças para incorporar um conhecimento novo. Mas, se tiver paralisia, questionará minhas ideias porque não quer quebrar seus próprios paradigmas. Você não é obrigado a aceitar tudo o que ouve, claro. Mas deve, no mínimo, questionar se sua rejeição às novas ideias não está te impedindo de crescer e evoluir.
Com informações da Revista Pequenas Empresas e Grandes Negócios
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